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17/12/2014

Com cobertura em balanço, fábrica de azeite "flutua" no sul de Portugal

Estendido como um lençol branco em meio a campos de oliveiras, um elegante lagar. Lagar? Lagar é o espaço destinado à prensa de frutos, tanto uvas para produção de vinho, quanto azeitonas na produção do azeite. A origem desse local de prensa remonta à Roma antiga e, passadas algumas centenas de anos, os lagares cresceram e hoje comportam, em vez de funcionários a pisar em frutos, equipamentos industriais de última geração protegidos por belas construções contemporâneas. É o caso do Lagar de Azeite Oliveira da Serra, do Grupo Sovena. O projeto de 5 mil m2 é do arquiteto português Ricardo Bak Gordon e foi construído incrustado entre 3 milhões de oliveiras, na Herdade do Marmelo, vila de Ferreira do Alentejo, sul de Portugal.

O grande objetivo da arquitetura de Gordon foi aproximar a construção da quase infinita paisagem de olivais. A implantação segue a geometria ortogonal da massa branca, contínua e livre de interferências, circundada por um espaço de aproximação de vias pavimentadas para veículos. Para reduzir a elevação do edifício com, majoritariamente, um pavimento, mas com quase 10 metros de altura a partir do limite natural, o terreno foi rebaixado em cerca de 2,40 m. "Pretendeu-se minorar o impacto da construção na paisagem permitindo uma imagem de leveza desde os pontos de maior distância", explica Ricardo Bak Gordon. Essa imagem em que a construção parece pairar acima do terreno é reforçada pelo contraste entre as duas principais matérias construídas: base e cobertura.
Enquanto todas as paredes e muros invertidos são pintados de preto, o sistema de cobertura reflete totalmente a luz, imaculadamente branco. "Essa característica amplia o sentido de levitação da cobertura, como se se tratasse de uma aparição branca e abstrata", conclui. O desenho do edifício e sua existência na paisagem revelam-se em todas as horas do dia e da noite, quando então suas grandes coberturas em balanço que se destacam nas extremidades do volume se iluminam.

O programa do pavilhão é simples e bem definido. A construção divide seus espaços internos em três grandes momentos necessários para a produção: recepção, transformação e armazenamento. O primeiro espaço que corresponde à recepção da azeitona ocupa a porção norte da instalação sob uma grande área coberta aberta lateralmente que, segundo o arquiteto, permite um trabalho mais confortável e eficiente durante o período da colheita. A cobertura em balanço desse piso é revestida por faixas de policarbonato alveolar de 40 mm de espessura na cor do azeite, que à noite conferem diferentes gradientes de iluminação.

Cinco pilares delgados dividem essa área da cota rebaixada onde se desenvolve o espaço de transformação e prensa do fruto, encerrado inicialmente entre muros e em continuidade entre paredes que limitam o externo do interno. A área tem acesso direto a partir da recepção e também pela área externa de circulação, de maneira a permitir a entrada livre de veículos de manutenção.

Entre os setores de transformação e de armazenamento Gordon definiu um volume de dois pavimentos onde se localiza uma série de pequenos espaços funcionais indispensáveis ao funcionamento da unidade. No piso térreo desenvolvem-se as entradas de funcionários e visitantes, sanitários, vestiários, descanso, e ainda o laboratório do lagar. No piso superior estão as áreas administrativas e uma área de prova e apreciação de produtos com acesso visual aos dois setores contíguos. Após o volume administrativo segue-se a área de armazenamento que ocupa toda a extensão final encerrada da construção, exceção feita a uma porção longitudinal na ala oeste destinada à embalagem. Ao fim, sobre o espaço destinado ao carregamento dos caminhões-cisternas, outra grande cobertura em balanço revestida de policarbonato protege o espaço. As coberturas iluminadas em meio a platibandas destacam ainda mais o grande volume branco na escala da paisagem, que nasce como uma nova marca de identificação territorial do lugar.

O sistema construtivo fundamental é composto por uma estrutura pré-fabricada de concreto armado e um sistema de cobertura de treliças metálicas revestidas por telhas tipo sanduíche, com proteção térmica. As paredes externas são formadas por painéis de concreto de 2,40 m cada, protegidos com manta destinada à isolação térmica, que recebem grande parte dos esforços e em conjunto com a estrutura de cobertura permitem a obtenção de grandes vãos internos livres de interferências. As divisórias internas são de gesso acartonado e o piso industrial é revestido de concreto polido.

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Fonte: au.pini